A queda na taxa de juros

Publicado no Jornal Diário do Comércio em 24/02/2017
 
Na última quarta-feira, o Banco Central anunciou mais um corte na taxa básica de juros SELIC, da ordem de 0,75 p.p. esta folga, que levará a referida taxa a um dígito ainda este ano, só foi permitida devido a dois fatores: 1° queda aguda da demanda nos últimos 3 anos, que redundou em uma desinflação que convergirá para a meta nos próximos meses e, 2° confiança do mercado quanto a capacidade do governo de aprovar as reformas fiscais, iniciadas com a PEC dos gastos e, cujo o ponto nevrálgico é a reforma da previdência.
 
Assumindo que os agentes fixadores de preços, formam expectativas adaptativas, ou seja, na passagem de um período para outro eles calibram sua esperança quanto ao futuro, corrigindo possíveis erros de previsões cometidos no período anterior. Caso a reforma da previdência não seja aprovada no congresso, as expectativas quanto a inflação hoje ancoradas no centro da meta e quanto à taxa de juros deverá sofrer reversão.
 
Sabendo disso, e considerando que variáveis políticas contaminam variáveis econômicas, e vice versa, o BC corre contra tempo para estimular a economia, fomentar o crescimento e garantir um certo capital político ao governo com vistas a aprovar a impopular reforma da previdência, trata-se portanto, de uma estratégia acertada do ponto de vista político.
 
Está claro que a capacidade do BC estimular o crescimento econômico é limitada e restrita ao curto prazo, está claro também, que sua função não é promover o crescimento, mas sim guardar a estabilidade monetária nacional. No entanto, revisitando os dois fatores supracitados, o BC presidido por Ilan Goldfain, goza de credibilidade, isto significa que os agentes que formam preços, acreditam (diferentemente do que ocorria com o BC presidido por Alexandre Tombini) que agora o BC será capaz de entregar a inflação no centro da meta, e por isso, quedas significativas e constantes na taxa SELIC não estão contaminando as expectativas de inflação.
 
Uma coisa é a credibilidade do BC em fazer convergir pra meta a inflação em 2017, outras duas coisas muito diferentes são: 1° sua capacidade de com isto fomentar o crescimento e, 2° até que ponto o crescimento gerado pela ação do BC, será capaz de garantir capital político para que o governo passe a reforma da previdência e a queda da taxa de juros seja mantida. Desconsideramos aqui o 2° ponto cuja explicação é de interesse da ciência política e vamos nos ater ao 1° ponto.
 
Quanto a capacidade do BC em fomentar o crescimento, é preciso ter em vista o formato da curva de Philips de curto prazo na economia, cuja inclinação relata a capacidade que choques monetários podem exercer sobre o produto. Dado que a redução da taxa de juros de curto prazo significa resgate de títulos no open Market e simultaneamente emissão de moeda que vai calibrar a liquidez através dos bancos. Este acréscimo de liquidez pode ser tão melhor sucedido na sua missão de estimular no curto prazo a economia, quanto maior for a demanda por moeda do público, no presente momento, este é um importante entrave, dado que a demanda por moeda para consumo ou investimento, estará limitada pelos altos índices de inadimplência verificados no país.
 
Um segundo entrave para a influência da taxa de juros sobre o crescimento, consiste no timing entre seus efeitos no lado real da economia e o prazo com o qual os agentes esperam que sejam realizadas as reformas fiscais. Isto por que, devido aos mecanismos de transmissão da política monetária, há um hiato temporal de 6 a 8 meses entre a redução de juros e seu impacto sobre a economia real, pode ser que esta agressiva redução de juros, surta efeitos apenas no 3° trimestre, e pode ser que isto seja insuficiente para manter ancoradas as expectativas dos agentes quanto a capacidade de se aprovar as referidas reformas cuja urgência requer votação e aprovação imediata. Neste caso, é possível que haja reversão desta tendência de queda da taxa nominal brevemente.
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