Onde estará o Brasil no Novo Normal?

Publicado na Revista Política Democrática em 17/06/2020

A pandemia do Coronavírus foi implacável ao inverter as prioridades das políticas macroeconômicas pelo mundo. Durante o Spring Summer do Fundo Monetário Internacional foi previsto um impacto econômico de longe superior ao da Crise Global de 2008. Das 190 economias pertencentes ao Fundo, previu-se recessão em 179 delas em 2020. A recessão é um fato com o qual o mundo terá que lidar e os instrumentos de ação dos governos ainda estão sendo pensados.

Uma tendência consolidada na compreensão moderna da economia enquanto ciência, é que problemas econômicos dependem de soluções que muitas vezes não são econômicas. A crise da COVID escancarou este desafio, de forma que a simples compreensão do funcionamento das políticas macroeconômicas serão insuficientes para conduzir uma resposta robusta à crise. Não há solução econômica sem prévia solução sanitária, do ponto de vista sanitário os governos ao redor do mundo atuaram em 3 frentes: i) implementação de medidas de isolamento social, ii) testagem em massa de suas populações e, iii) investimentos em pesquisas na busca de vacinas e remédios. Enquanto a vacina não é descoberta e disponibilizada o sucesso das medidas sanitárias diante do vírus dependerá do sucesso de cada governo em testar sua população e manter o isolamento.

O Brasil fracassou ao lidar com a pandemia quando o Presidente se aliou ao vírus e sabotou as medidas de isolamento social, isto fatalmente levará ao fracasso da recuperação econômica. Não existe retomada sem a construção de um estado de confiança prévio capaz de induzir agentes econômicos a consumir e investir. Sob este aspecto, a incapacidade do Governo em lidar com as medidas de isolamento social criaram um ambiente de desconfiança, alimentado interna e externamente, sobre a incapacidade deste governo em lidar com as pautas necessárias para reaquecer a economia.

Duas preocupações preponderam: primeiro a visão equivocada do Ministério da Economia acerca da natureza da crise e dos instrumentos necessários para enfrenta-la. A mescla da visão liberal antiga com um fiscalismo exagerado, pode ser perigosa neste momento, será preciso um certo nível de pragmatismo para passar por este momento com danos minorados. Não é possível delegar a recuperação à simples trajetória do ciclo econômico. A dívida pública vai crescer, estimativas apontam para uma Necessidade de Financiamento do Setor Público de R$800 bilhões em 2020. Ora, se este passivo é inevitável, é importante que cada real empenhado neste contexto cumpra seu papel de salvar vidas, empregos e empresas. Infelizmente não é o acontece, pelo que se sabe até agora, os auxílios prometidos chegam atrasado e em magnitude aquém do necessário. Corre-se o risco de o Brasil chegar em 2021 com o passivo fiscal do COVID em contraste com as mortes e a desestruturação dos setores produtivos absolutamente evitáveis.

O segundo fator que preocupa na errante recuperação econômica é a letargia das ações. O governo não só se empenha em insistir em uma agenda que não cabe no contexto, como também demora em implementa-la. Graças a isto, o mundo começa a se preparar para o relaxamento das medidas de isolamento social e discutir as medidas de estímulo econômico que envolvem equilíbrio macroeconômico, desenvolvimento social e humano, redução das desigualdades e deslocamento da fronteira tecnológica. Enquanto isto o Brasil segue preso no debate acerca dos retrocessos democráticos recentes e na equalização da questão fiscal não solucionada no quadriênio 2015 – 19. Causa tristeza a percepção que estamos saindo de uma década perdida e entrando em outra, de forma que o país era a 7ª economia mundial em 2010, hoje é a 9ª e talvez não esteja entre as 10 nos próximos 4 ou 5 anos.

É preciso sair desta armadilha, resolver a questão política é um fator condicionante para continuar debatendo o restante. O Brasil está ficando relativamente atrasado em relação ao resto do mundo, perdido em polêmicas políticas que já deveriam estar superadas. Saídas para a crise, tanto sanitária, quanto econômica, dependem da política. A economia apenas recomenda, mas a política executa. Precisamos resolver o curto prazo e ao mesmo tempo redescobrir uma estratégia de longo prazo que permita ao país crescer e distribuir, mitigar pobreza, gerar oportunidades, conviver civilizadamente com o meio ambiente e desenvolver novas tecnologias, competências, oportunidades e elevar a produtividade. Há muito a ser feito, não podemos perder as esperanças.

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1 comentário

  • lauschnerrl@gmail.com

    Bem fraca e tendenciosa essa análise. Para não falar esdrúxula. Fala dos atrasos do repasse do auxílio (sem contar os tantos brasileiros que se cadastraram sem precisar congestionando o sistema) mas não cita os desvios dos governadores, superfaturamento ingerência dos recursos públicos destinados, o covidão.? Não fala das medidas autoritárias de fechamento de estabelecimentos comerciais descumprindo ordens do próprio presidente.

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