A Relevância do Segundo Turno

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia no dia 29/09/2016
 
A economia e a política são ciências afins, ou seja, uma adentra na seara da outra. É importante esta constatação, devido ao fato de que, os fenômenos produzidos em uma, causam efeitos nos desempenhos da outra. Há uma ampla disponibilidade de literatura internacional que relaciona o ciclo econômico ao ciclo político, onde, em geral, os resultados empíricos apontam para a existência de certos fenômenos.
 
Assumindo que vivemos em uma democracia, a função alocativa dos governos exige o atendimento das demandas do eleitor mediano, que se expressa no período da eleição. A eleição é, portanto, a chancela das preferências do eleitor, que as dita através do voto, o que deve redundar, pelo menos em tese, nas escolhas públicas ao longo do mandato. Este sistema democrático funciona bem mediante a duas características essenciais:
 
1° a ausência de assimetrias de informação, ou seja, o eleitor precisa estar perfeitamente informado sobre as diferenças do programa de governo dos candidatos e, sobre a real situação financeira do governo, que via de regra, é o fator que deverá viabilizar o atendimento das demandas do eleitor mediano através da escolha pública.
 
2° a presença de mecanismos de accountability, termo utilizado para se referir à presença de mecanismos de controle social sobre a ação do governo, em outras palavras, que fiscalizem e penalizem a ação de governantes que não cumpram com o ideário apresentado durante a eleição. Fazem parte deste instrumental, um legislativo independente, a presença de um judiciário eficiente e imprensa livre.
 
No Brasil de forma geral, e em Uberlândia de forma específica, a percepção que se tem é que ambos os fatores são precários, a consequência disto é bastante óbvia, certamente haverá no período futuro a frustração das necessidades do eleitor mediano, por razões de desdobramos aqui.
 
Primeiramente como apresentado em meus últimos 5 artigos neste espaço, a prefeitura apresenta um rombo de R$257 milhões no orçamento corrente, o comportamento futuro das receitas municipais tem viés de baixa, já o dos gastos de custeio viés de alta no curto prazo. Ou seja, não há capacidade de investimentos para o atendimento das necessidades do eleitor mediano.
 
Não obstante às assimetrias informacionais quanto às reais condições que o próximo governo deverá enfrentar, as campanhas eleitorais por hora vistas, tendem a aprofundar estas assimetrias, com peças estapafúrdias de marketing que, em linhas gerais nos menosprezam a inteligência. Não houveram até aqui, debates, que tornassem evidentes as verdadeiras diferenças dos candidatos quanto a temas de interesse do eleitor.
 
Para piorar, a câmara dos deputados prestou um grande desfavor aos eleitores do país, reduzindo num ano de problemas críticos, o tempo da campanha política dos antigos 90 para os atuais 45 dias, destes, parte expressiva do período, a pauta principal da imprensa foi o impeachment, as olimpíadas e a cassação do Dep. Eduardo Cunha, sobrando portanto, pouco tempo para a discussão dos assuntos locais.

 

 
Em resumo, houveram complicadores que omitiram as informações relevantes para a escolha do eleitor, e a cidade não tem nada a perder com a opção pelo segundo turno, ao contrário, se beneficia, já que haverá um mês a mais para reduzir as assimetrias de informação sobre os temas do município, ganham inclusive os candidatos a chance para debater melhor suas diferenças.
Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

*

Translate »