Perspectivas do Varejo

 

A percepção generalizada da economia brasileira hoje, diferentemente do que se apurava meses atrás, é que a fase pior está passando, evidentemente que ainda há um longo caminho a ser atravessado e, existe uma defasagem temporal entre mudanças de percepção e sua influência na atividade real, além disto, seu impacto nos diferentes setores é heterogêneo.

 

Em 2015 o setor que mais sofreu com a crise em curso foi a indústria de transformação, a queda foi de 9,7%, seguido pelo comércio com um desempenho de 8,9% negativos, coerentes com as previsões realizadas em artigo publicado neste espaço em 26/02 cujo o título é O Varejo em 2016. O primeiro problema para explicar o desempenho catastrófico é a falta de demanda, impactada por três fatores:

 

1° inflação, considerando o IPCA-15, manteve-se elevado durante os últimos 3 anos, funciona como um imposto cobrado principalmente – mas não só – dos mais pobres, já que sua incidência maior se deu em produtos essenciais como combustíveis, eletricidade, e alimentos. Felizmente hoje, há um movimento de convergência da inflação oficial para a meta, o que deve aliviar a queda na renda.

 

2º desemprego, este deve persistir elevado por mais tempo, pois não se movimenta com a política macroeconômica, dependendo além das expectativas, também de características institucionais do mercado de trabalho, e nisto o Brasil está atrasado, muito embora apresentou recentemente melhoras significativas, como a aprovação da lei de terceirizações e a mudança de regras no seguro desemprego, restringindo o acesso ao benefício, mas ainda há muito a ser feito, é preciso atuar sobre os custos indiretos para contratar, manter e demitir um trabalhador que, segundo os cálculos do Prof° José Pastore FEA-USP, chegam a custar até 102% do salário para as firmas, sem a revisão deste número, é possível crer que o Brasil deverá conviver com altas taxas de desemprego por décadas.

 

3° inadimplência, neste quesito, pode-se ver um ensaio ainda que tímido de reversão, segundo a Serasa Experian, em julho pela primeira vez desde 2014, houve um recuo de 1,3 milhões de pessoas que abandonaram a inadimplência, não se sabe no entanto, se este número será capaz de fomentar a demanda, dado que o volume ainda é alto, são 59 milhões de inadimplentes no país, pessoas que devem permanecer por algum tempo, consumindo exclusivamente para sua subsistência. Um exemplo disto é a demanda por crédito que cresceu no primeiro semestre deste ano, em um ritmo menor do que em 2015, respectivamente 3,2% contra 4,8%.

 

Um importante instrumento neste sentido foi a aprovação do cadastro positivo, com vistas a facilitar o crédito por consumidores em condições de tomar dinheiro emprestado, nesta categoria a inadimplência é menor, um estudo feito pela Serasa mostra que destes, apenas 36% estão inadimplentes, sendo que, dentre os que estão negativados por 2 anos, o volume é bem menor, são 15,5%, revelando que os consumidores que optaram pelo cadastro positivo, a inadimplência é um fenômeno de curto prazo e deve ser revertida logo.

 

O fato é que estes fatores devem retardar a retomada da varejo, principalmente o ampliado, que contempla a construção civil e setor automobilístico, muito dependente do crédito para o fomento de seus negócios, no chamado varejo restrito, que se identifica mais com produtos essenciais, as vendas podem sim ensaiar uma reação já no segundo semestre.
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