Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 16/05/2022
Embora nem sempre isto esteja claro, a razão de existir da economia enquanto área específica do conhecimento científico é a investigação sobre a trajetória de prosperidade dos países. Esta foi a preocupação de Adam Smith quando publicou o clássico “A Riqueza das Nações” em 1967 e continua sendo a preocupação de grandes expoentes da ciência contemporânea como Robert Solow, Robert Lucas, Paul Romer e Daron Acemoglu.
Existe hoje uma ampla literatura capaz de diagnosticar os fatores que levam um país a romper (ou não) o horizonte da renda média e tornar-se uma nação de alta renda. Durante algumas décadas no passado recente, alguns autores propuseram a chamada hipótese da convergência. Grosso modo, a hipótese da convergência pressupõe um país na fronteira da renda per capita e que a tendência dos países abaixo desta fronteira seria convergir para ela. Mais recentemente, a evidência empírica apontou que a convergência da renda per capita dos países mais pobres, em direção aos ricos não se verificou. Ao contrário, houve divergência.
O Brasil, durante algumas décadas foi tido como um país promissor neste aspecto. As quase 5 décadas de longo crescimento econômico entre os anos 1930 e 80 causaram enorme esperança de que no futuro, pudéssemos nos posicionar entre os países desenvolvidos. Isso, no entanto, foi interrompido, apesar dos avanços nas áreas econômica, social e institucional verificados a partir dos anos 1990. Vale aqui, frisar esses avanços, o Brasil fez parte do trabalho necessário em direção à renda mais alta: i) tornou-se uma economia industrial e diversificada; ii) tornou-se uma sociedade urbana; iii) tornou-se um país macroeconomicamente estável, apesar de fricções fiscais e monetárias de curto prazo; iv) realizou um dos maiores programas de inclusão e assistência social, além de universalização de serviços públicos do mundo.
Apesar de todo o esforço, o Brasil não foi capaz de romper a faixa da renda média. Pior ainda, começou a década de 2010, segundo o Banco Mundial, com uma renda per capita de US$15 mil ano e terminou, em 2020, com US$14,8 de renda per capita. A economia dos Estados Unidos, nossa referência de ponto de convergência, saltou de US$49,8 mil, para US$63,6 mil neste mesmo período.
Voltando à literatura, em modelos de crescimento endógeno como os de Paul Romer, a política de desenvolvimento científico e tecnológico tem papel crucial para determinar o sucesso ou fracasso das nações na convergência para os países de renda alta. Esse foi o esforço da Coréia do Sul, cujo governo gasta hoje, segundo a UNESCO, cerca de 4,5% do PIB em ciência e tecnologia. Esforço significante faz o governo da China gastando 2,1% do PIB, ou dos Estados Unidos gastando 2,8% do PIB, enquanto o Brasil gasta 1,1% do PIB na mesma rubrica.
Embora as restrições fiscais deixem claras as dificuldades, o Brasil precisa se esforçar em ao menos dobrar o seu gasto em ciência e tecnologia nos próximos anos, sob pena de continuar acumulando décadas perdidas pela frente.
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