Minorias histéricas
Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 22/06/2016
O Prof° Gustavo Franco nos ensina no livro “A Antologia da Maldade” que existem apenas dois segmentos da sociedade que não são politicamente representados: o coletivo e o trouxa, esta máxima nos fornece um rico diagnóstico sobre país do impasse, caracterizado pelo clima conflitivo estabelecido por grupos de interesse e que emperram o avanço do interesse público.
Mas qual é o interesse público?
O interesse público quase nunca aparece explicitamente na agenda nacional exatamente por que o coletivo e o trouxa não possui representação, a nível de parlamento estão representadas apenas minorias histéricas, gente com pouco compromisso com o bem estar agregado, reivindicando exclusivamente interesses classistas.
Isto ficou explícito com o episódio da recriação do Ministério da Cultura (interesse secundário), em relação ao equilíbrio das contas públicas (interesse principal e urgente), mostrando como meia dúzia de ilustres utilizaram sua influência para submeter o interesse de 200 milhões aos seus.
Este singelo episódio desnuda a fragilidade do governo Temer, que pode ser tão superada quanto maior a capacidade de transmitir sua convicção nas mudanças que o país precisa e a sociedade inquieta, espera.
O governo Temer inicia contando com o apoio de uma parcela da sociedade, a qual jamais estaria o apoiando numa condição normal, este apoio surgiu da conjuntura econômica e política que empurraram setores a apoiá-lo pelo fato de ser a alternativa mais rápida ao PT.
Esta disposição de apoio se deu ancorada nas expectativas de uma nova relação entre o executivo e o legislativo, profundamente prostituída nos 14 anos, também de uma nova relação entre o público e o privado, corrompidas pelo modelo político instaurado em 2003, além de reformas econômicas para reverter o intenso cenário de sofrimento que flagra o quadro de súbito empobrecimento do país.
Os mesmos motivos que levaram setores a apoiá-lo por ser uma alternativa ao PT, podem leva-lo ao isolamento caso seu governo não mostre convicto nas mudanças que pretende empreender, a ponte para o futuro não pode se transformar numa ponte para a mesmice e, a indicação de nomes investigados pela Lava Jato, pouco contribuem com um governo que depende do imediato reestabelecimento da credibilidade.
Os políticos parecem não entender o sentimento das ruas, e a estranha conjuntura que se põe parece ser caracterizada por um dos raros momentos em que o coletivo e o trouxa querem ser ouvidos, e que muitos não estarão dispostos a pagar o custo dos privilégios de poucos, sejam eles quem for, artistas, políticos, burocratas, empresários monopolistas devem submeter seus interesses ao coletivo, nunca o contrário.
É momento do surgimento de líderes, estes não são caracterizados por apresentarem convicções débeis sobre o diagnóstico e o caminho para solucionar os problemas sociais, a propósito, o principal defeito que um presidente pode apresentar é a falta de convicção, vide Lula, o socialista dos anos 1980 que se tornou uma feliz surpresa conservadora no começo dos 2000, mas como suas convicções eram frágeis e o que lhe interessava era o mero poder per se, se inclinou à heterodoxia populista em seu segundo governo atirando o país na pior recessão da história.
A convicção agora, proposta pelo coletivo e pelos trouxas, é equilibrar o orçamento ainda que custe os privilégios (merecidos ou não) das minorias histéricas.
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