Publicado no Jornal Folha de São Paulo em 11/02/2022
O Brasil entrou em 2022 e, diferentemente de anos anteriores que prometiam, no início, ser o “ano da retomada”, as previsões econômicas para este ano se mantém pessimistas. Desde 2019, quando teve início o governo Bolsonaro, estão disponibilizados dados do PIB da economia brasileira para 11 trimestres, dos quais em 5 trimestres o crescimento foi negativo, ou nulo. Não se trata apenas dos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a economia. Destes 5 trimestres recessivos, 2 deles ocorreram antes da pandemia, outros 2 se deram este ano, quando o processo de vacinação já estava em curso e as medidas de isolamento social relaxadas.
Não dá para desconectar o mau desempenho da economia brasileira nestes últimos 3 anos das crises políticas que se acometeram no Brasil desde a última década e se intensificaram sob a figura de Bolsonaro. Embora crises políticas sejam difíceis de se quantificar em dados e quase sempre estejam ausentes dos modelos macroeconômicos tradicionais, o que se passa na política influencia na economia e vice-versa. Portanto, é impossível dissociar o que acontecerá na economia brasileira em 2022 e 23, do processo eleitoral que se aproxima.
A eleição de 2022 pinta no horizonte como um plebiscito cuja pergunta é se o governo Bolsonaro deve ou não continuar. A ausência de uma terceira candidatura, há 10 meses das eleições, com robustez para quebrar o tom plebiscitário do pleito, indica que o Brasil deve fazer uma escolha entre Lula e Bolsonaro em outubro deste ano. Como economista, não gosto do programa econômico do PT, estatizante, atrasado, insustentável em termos macroeconômicos. Resta saber se Lula vai abraçar o velho programa partidário de inspiração soviética, ou se será o Lula de 2003, do tripé macroeconômico, da reforma da previdência, da desdolarização da dívida pública e de tantas outras pautas que ajudaram a construir o ciclo de crescimento dos anos 2000.
No que se refere às práticas políticas, o presidencialismo brasileiro requer sintonia entre executivo e legislativo. Lula foi capaz de costurar amplo apoio no Congresso sob bases pragmáticas, o popular “toma lá da cá” predominou no seu período. Não era o melhor modelo, mas era funcional. Com Bolsonaro, no entanto, o Brasil assiste algo inédito, o executivo esvaziado de pautas terceirizou o governo para o legislativo que hoje pauta o país a ponto de fazer política orçamentária à reveria do que se passa no “Superministério da Economia”. Hoje no Brasil é a Câmara dos Deputados (particularmente setores do Centrão) e não o executivo, que aloca parte dos poucos recursos discricionários disponíveis na União.
Essa distorção nas relações entre executivo e legislativo só ocorre em função do tom ameaçador que Bolsonaro adotou contra os poderes em boa parte do seu governo. Isso inclusive ajudou a minar as bases da confiança e a atirar a economia brasileira neste péssimo desempenho econômico. Para 2022, os democratas devem focar em 2 metas: finalizar o governo Bolsonaro e diminuir o tamanho do centrão no Congresso.
Comentários