Publicado na Revista Cult em 30/01/2018
Adentramos 2018, e a sensação que paira sobre a sociedade brasileira consiste num mix de esperança e cansaço. A esperança é natural do abandono das más notícias que sucederam todo o ano passado, já o cansaço, é natural do medo, que o triênio 2014 – 17 e, suas consequências para o bem estar social se repitam. Afinal, o que se pode esperar para o ano que começa?
A boa notícia é que o país parou de piorar, pelo menos no que se refere alguns aspectos econômicos. No que se refere ao Produto Interno Bruto PIB, há uma recuperação cíclica da atividade, estimamos um crescimento de 2,2% para 2018, o que se trata de um grande resultado, se considerarmos os números recentes como base, em 2015 o país decresceu 3,8%, em 2016 caiu 3,6% e em 2017 apresentará qualquer número entre 0 e 1%.
Em que pese o número positivo que se espera para 2018, as razões para comemorar ainda são comedidas. Se considerarmos um crescimento econômico de 2,2% contrastado com um crescimento populacional de 1,6% que deverá ocorrer no supracitado ano, será apresentado um crescimento da renda per capita de 0,6%, o que significa uma semi estagnação. O Brasil precisa portanto, de apresentar taxas mais robustas de crescimento, para que haja a alavancagem efetiva da sua renda per capita. Para tanto, será preciso discutir uma agenda de crescimento, tema que será abordado em artigo futuro.
Mas a propósito, quais os vetores para o crescimento este ano?
Certamente, pelo que já se sabe sobre os consecutivos déficits fiscais acumulados até aqui, não se deve esperar estímulos econômicos vindos da política fiscal, pelo contrário, haverá aumento de impostos e cortes de despesas, principalmente discricionárias (investimentos públicos). Já pelo lado da política monetária, tem-se no Brasil uma taxa de juros historicamente baixa, seus efeitos sobre a atividade serão sentidos ainda no 1° semestre de 2018, incentivando o consumo das famílias e o investimento privado, pelo lado da demanda.
No que se refere ao consumo das famílias, há uma tendência natural de crescimento, dada a estagnação apresentada no período passado, criando demanda reprimida das famílias que tendem a ser liberadas a partir do momento que a renda seja recomposta. A retomada do crédito também será outro fator incentivador do consumo das famílias, sobretudo a partir do momento que a inadimplência das pessoas físicas recuar. Há, no entanto, alguns limitadores, como o baixo reajustes de 1,8% do salário mínimo anunciado para o ano.
Já no que se refere aos investimentos, o cenário de queda da taxa de juros irá facilitar a retomada dos investimentos que caíram a níveis demasiadamente baixos. A queda da taxa de juros incentiva os investimentos por dois canais: i) Facilita o crédito tornando viáveis projetos que eram inviáveis a um custo financeiro maior e, ii) Torna o custo de oportunidade de investir na produção maior em relação aos investimentos financeiros. O principal complicador da retomada dos investimentos é a crise de liquidez que assola uma parte dos negócios no país, sobretudo na indústria.
Pelo lado da oferta, acredita-se que o setor agrícola terá um desempenho inferior ao apresentado no ano de 2017, a Conab estima uma produção de grãos sensivelmente menor. Isto, no entanto, é natural, dado que o ano passado se configurou como um ano de super safra, pautado por fatores climáticos que não devem se repetir. A indústria, deve apresentar uma melhora em relação ao seu comportamento ao longo da década, ganhos de produtividade devem começar a surtir efeitos devido a mudança de paradigma da política comercial brasileira, muito mais aberta às importações de máquinas e equipamentos de alta tecnologia após o impeachment da presidente Dilma. Some a isto ainda, os efeitos da taxa de câmbio, cujo patamar é satisfatoriamente competitivo para as exportações industriais, num panorama internacional de crescimento do resto do mundo.
Finalmente, no que se refere ao grande setor da economia brasileira, o setor de serviços e comércio, se espera uma recuperação de fato, apesar dos números ruins apresentados nos últimos trimestres de 2017. Trata-se de um setor de vital importância para a economia, seja por que é o maior setor, ou ainda, seja por que é intensivo em mão de obra, e sua recuperação portanto, é estratégica para a retomada em níveis mais rápidos do emprego. Os serviços devem crescer em 2018, pautados por setores de alta produtividade como start ups e fintechs, o varejo deve apresentar igualmente um desempenho satisfatório.
Riscos para a economia em 2018.
O Brasil terá no ano de 2018, três desafios que podem ser considerados testes de maturidade da nossa democracia, e cuja superação, irá consolidar (ou não) o país como uma civilização séria, crível e responsável. O primeiro teste consiste na aprovação da reforma da previdência, grande responsável pelos consecutivos déficits fiscais que o país vem apresentando ao menos desde 2014. Sem ela, o país descumpre a regra de ouro da política fiscal (que prevê um teto para o crescimento dos gastos públicos), haverá grande solavanco da taxa de juros e, consequentemente, o Brasil irá atingir uma dívida pública de 100%, colocando o Estado brasileiro à beira da falência. É preciso superar este teste ainda no 1° semestre deste ano.
O segundo teste de maturidade da nossa democracia, consiste no resultado que sairá das urnas em 2018, se o eleitor brasileiro será capaz de eleger um presidente equilibrado, responsável e reformista para assumir no próximo quadriênio, ou se ao contrário, o país vai adentrar numa nova aventura populista. O Brasil errou com Collor em 1989, com Lula em 2002 e 2006, e com Dilma em 2010 e 2014, não é possível que o país erre de novo em 2018, precisamos reencontrar a agenda ortodoxa que permitiu o país crescer e distribuir riqueza nos anos 1990.
Finalmente o terceiro teste de maturidade, consiste na construção de um ambiente político favorável às reformas que o país precisará enfrentar a partir de 2019. O Brasil sofre de uma doença grave que nos faz ao mesmo tempo, crescer pouco com desigualdade de renda. Evidencias empíricas internacionais, mostram exemplos de sociedades democráticas que ou crescem muito, mas de forma desigual (como a China), ou crescem pouco com maior distribuição de renda (países desenvolvidos), o Brasil de hoje não consegue ser nem uma coisa, nem outra, precisa de reformas efetivas para crescer distribuindo. Isto no entanto, é um desafio nas sociedades democráticas, cujas decisões dependem de consenso social e político, tudo começa pela pacificação do país.
Afinal, seremos capazes de vencer estes três testes de maturidade em 2018? E nos consolidar como uma democracia madura? Capaz de crescer distribuindo renda? Sejamos otimistas, afinal teremos um feliz ano novo para adquirir estes objetivos.
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