Razões para a recusa do convite para a palestra de Bolsonaro

Em flagrante agenda de candidato perambulando pelo país, o deputado Jair Bolsonaro estará no próximo dia 19/10 em Uberlândia, dentre suas várias agendas, haverá um encontro com empresários do município, na qual será ministrada a palestra “Desafios para as próximas gerações”. De prontidão, anunciei em minha fanpage do Facebook que não iria prestigiar a palestra organizada por entidades da sociedade civil uberlandense, diante da repercussão do meu anúncio, me vejo na obrigação de dizer o por que tomo esta decisão.

O primeiro fator, diz respeito a rejeição do deputado Bolsonaro apurada pelo instituto Datafolha, nos quais me incluo nestes 33% dos eleitores que não votariam em Bolsonaro em nenhuma hipótese. Em um eventual 2° turno, entre Lula e Bolsonaro, estarei anulando meu voto pela primeira vez desde minha primeira eleição em 2006. Mas o que rejeição pode influenciar em 2018?

Seria interessante, que os institutos de pesquisa que captam intenções de votos e rejeição, fossem capazes de criar uma função de preferência ou rejeição estrita dos candidatos, ou seja, através de um ranking de rejeição, o eleitor pudesse descrever o quão aprova e o quão rejeita cada candidatura. Isso pode ser calculado a partir de uma função de monotonicidade estrita dos candidatos da seguinte forma. Sejam os candidatos A, B, C e D, dê uma nota de 0 a 100 que caracterize o grau de rejeição quanto a cada candidato.

Candidato A > Candidato B > Candidato C > Candidato D

Considerando que não haja indecisos e que o comportamento do eleitor mediano é racional, parte do eleitor declarado de Lula, terá uma rejeição estritamente monotônica de Bolsonaro em relação aos demais. De forma análoga, parte do eleitor de Bolsonaro, terá uma rejeição estritamente monotônica em relação a Lula. Se a hipótese da racionalidade do eleitor é válida, é possível encontrar uma taxa de rejeição absoluta de Lula e Bolsonaro, ou seja, o percentual do eleitor que detesta o candidato. É possível acreditar que tendo Lula e Bolsonaro, uma rejeição total respectiva de 42% e 33%, suas taxa de rejeição absolutas podem estar próximas dos 20% para cada lado, totalizando portanto, uma rejeição absoluta de 40% a duas candidaturas adversárias. Em grande medida, isto explica o ambiente altamente polarizado no qual nos encontramos.

Supondo que estes números captados pela última pesquisa Datafolha se mantenham até as eleições (em julho de 2018), e que estas duas candidaturas sagrem-se como favoritas, é possível esperar que a polarização hora vista, contagie os discursos dos candidatos e seus respectivos eleitores. Se isso for verdade, o lado vencedor terá grandes dificuldades para encontrar um consenso mínimo na sociedade capaz em reverter em apoio para uma agenda de reformas profundas. Como aconteceu com Dilma Rousseff, a vitória eleitoral será uma derrota política, e a radicalização do lado perdedor, somado ao desgaste natural do apoio ao lado vencedor, podem corroer rapidamente a governabilidade. Em resumo, uma vitória tanto de Lula, quanto de Bolsonaro, significariam uma extensão da crise política para além de 2019.

Mas se o PSDB foi o adversário natural e histórico do PT, o que justificaria a rejeição estrita à candidatura de Bolsonaro à grande parte do eleitor? Mesmo aquele que não é de esquerda? Em grande medida, isto se dá por um conjunto de declarações polêmicas. A começar por sua declarada admiração aos militares, que condensa propostas desde a obrigatoriedade do do ensino militar nas escolas brasileiras, até a declaração esdrúxula de que metade dos seus ministros seriam militares. Sua admiração pelos governos militares tomou proporções inéditas de publicidade quando na votação do Impeachment da presidente Dilma, o deputado dedicou seu voto ao Coronel Brilhante Ustra, conhecido torturador dos regimes autoritários, a quem em seguida Bolsonaro chamou de herói durante processo sofrido no Conselho de Ética da Câmara.

Ora, se como economista, e uma pessoa que pensa sobre o desenvolvimento, valores como a democracia e o Estado de direito são inegociáveis e fundamentais para o avanço civilizatório, ao considerar heróis figuras que violaram no passado estes valores, Bolsonaro se posiciona no campo adversário ao nosso. Não é possível, neste caso, prestigiar a visita do deputado a Uberlândia. Não obstante a isto, um conjunto de declarações infelizes quanto aos negros e quilombolas, ou ainda ofensas proferidas a homossexuais e mulheres tornam Bolsonaro mais do que um candidato polêmico, mas sim, um grande mau exemplo de intolerância e desrespeito.

É preocupante que um candidato que usa o efeito de frases ofensivas para ofuscar seu baixo nível cultural, e com isto, ganhar popularidade, ocupe hoje a segunda posição nas pesquisas de intensão de voto. Isto se dá em alguma medida, graças às contínuas acusações de corrupção à seus pares parlamentares do congresso, se colocando sempre, como um ético no combate a bandidos, será? Sendo Bolsonaro tão diferente de seus colegas políticos, por que ele está percorrendo o país em flagrante campanha, ainda que a legislação vigente proíba? Se criticamos esta postura de Lula e Ciro Gomes (que nem cargos públicos ocupam), por coerência campanha fora de época de Bolsonaro não pode ser tolerável.

Enfim, por acreditar que uma eleição de Bolsonaro ou Lula vai estender a crise política, pela minha notável discordância das ideias do referido deputado, me abstenho de assistir a sua palestra em Uberlândia.

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