A pouco mais de um ano, no jornal Correio, escrevi o artigo o triste brexit, me referindo a decisão equivocada do Reino Unido de abandonar a União Européia. Decisões democráticas desta envergadura, cujos impactos interferem na vida de toda a população ao longo de décadas, não poderiam ser tomadas a partir de um plebiscito de maioria simples, já que a mínima margem do voto pela saída e a grande abstenção colocam dúvidas se este era realmente o sentimento da maioria da população britânica, melhor que a votação se desse por maioria qualificada (no mínimo 3/5 dos eleitores), neste caso a vitória da saída seria incontestável.
O fato é que a Grã Bretanha está de saída da União Europeia e, os custos ainda estão sendo calculados leia mais aqui. Um ano após a saída, os números mostram que a insensatez está custando caro para os britânicos. O país perdeu neste período meio milhão de empregos, a Libra Esterlina sofreu uma desvalorização de 20% frente ao Dólar, a inflação saltou de 0,5% em maio de 2016 para 3% em Junho deste ano e os cálculos não são consensuais quanto a magnitude, mas grande parte dos estudos apontam para uma queda da renda per capita no Reino Unido entre 1 e 3% como consequência do Brexit.
Cerca de 15 meses depois da equivocada saída do Reino Unido da UE, novos movimentos separatistas insurgem na Europa, criando instabilidade e prejuízos para o continente, a começar pela Escócia, que viu no plebiscito britânico o argumento perfeito para reascender seu sonho antigo de independência, sob pretexto de se juntar ao restante da Europa. Agora a Catalunha, região rica da Espanha, cuja luta por independência é histórica tenta se desmembrar do território espanhol.
A tensão na Espanha ainda é agravada por uma alta taxa de desemprego fruto da crise econômica que abate o país a alguns anos. O separatismo, no entanto, não é a resposta adequada para a crise econômica, pelo contrário, já existe em curso um movimento de saída de algumas empresas espanholas e multinacionais da região da Catalunha, o que evidentemente agrava o problema do desemprego na região voce pode saber mais aqui. Isto pode estar criando, inclusive, uma tendência separatista na Europa, como já há ensaios na Itália, saiba mais aqui. O desmembramento político e territorial só interessa a uma elite política, interessada em vantagens econômicas e em ampliar o seu campo de influência sobre uma maioria que será largamente afetada pela instabilidade.
Vide a Iugoslávia, um dos grandes países europeus do século passado, símbolo da resistência ao Nazismo na guerra do leste e com a economia mais pujante da Europa Oriental, sua fragmentação em 1992 a partir de uma guerra, criou um conjunto de países fracos, debilitados e com nenhuma relevância econômica e geopolítica. Em algumas áreas, existe ainda uma grande instabilidade militar, como no caso do Kosovo, que declarou unilateralmente independência da Sérvia em 2008, e não tem sua independência reconhecida por um conjunto de países.
Mas os problemas econômicos não são os únicos, nem tão pouco os maiores problemas que envolvem os movimentos separatistas em grande parte da Europa e, também do Oriente Médio. Na prática, as dificuldades econômicas potencializam um discurso que, pensávamos nós, havia sido derrotado e relegado ao ostracismo após os grandes danos humanitários que provocou na primeira metade do século XX. O discurso nacionalista europeu foi o grande promotor da barbárie e da selvageria no passado, sua ressurreição em pleno sec XXI, traz consigo dois riscos adicionais: 1° o autoritarismo e, 2° a violência contra minorias étnicas.
O nacionalismo torna inimigos povos semelhantes, xiitas e sunitas, árabes e curdos, ingleses, irlandeses e escoceses, sérvios e albaneses, espanhóis e catalães. O acirramento das disputas por territórios ora pacificados produz instabilidade econômica, desemprego e pobreza nas regiões onde ele se abate. Já a negação da diplomacia e o desrespeito às regras constitucionais vigentes em cada região, cria o risco da xenofobia, do autoritarismo e amplia largamente as chances de terrorismo nestas localidades. É preciso reencontrar o caminho do bom senso.
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