“Entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”
A frase acima foi proferida por Winston Churchill ao então 1° ministro Britânico Neville Chamberlain, após as negociações que resultaram Tratado de Munique em 1938, que permitiu a Alemanha de Hitler a anexação da antiga Tchecoslováquia ao seu território. Como se sabe, a guerra era inevitável e teria início no ano seguinte, em 1939. E ela poderia ser dita, após a votação da aceitação denúncia por corrupção passiva, envolvendo o presidente Michel Temer encaminhada pela Procuradoria Geral da República PGR à Câmara dos deputados.
Nas falas da esmagadora maioria dos Deputados que votaram a favor do relatório do Dep. Paulo Abi Ackel do PSDB – MG, que propunha o arquivamento da denúncia, escutava-se o seguinte argumento: “pelo progresso, pelo crescimento, pelo emprego, pelas reformas voto sim”. A partir da postura destes 263 deputados que votaram a favor do arquivamento de uma denúncia, cujas provas audíveis a sociedade teve acesso pelos jornais, é possível que qualquer pessoa com conhecimento mínimo de economia, adapte a frase de Churchill:
“Entre a desonra e a crise, escolheram a desonra e terão a crise”
E não é difícil explicar por que. A presente crise, com seus desdobramentos políticos, jurídicos e econômicos é resultado de um processo semelhante de tolerância à corrupção iniciado anos atrás, em 2005. Na época, a sociedade brasileira, a justiça, e as elites econômicas e políticas do país, fizeram vista grossa ao presidente Lula e ao seu Mensalão em nome de uma pretensa prosperidade econômica que hoje se sabe, não duraria ad eternum. E isto, em grande medida atirou o Brasil na atual década com o pior desempenho econômico desde que se tem dados. Dado isto, é possível refletir sobre uma segunda frase, do pensador alemão Karl Marx em seu livro O 18 Brumário de Luis Bonaparte e que se aplica perfeitamente a esta realidade:
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”
Não é muito difícil entender que o resultado da votação que engaveta o processo contra Temer, em nome de uma pretensa prosperidade econômica que ainda não há no Brasil, é uma farsa que repete a tragédia de 2005. E o terror econômico vivido no país pela herança de Dilma é uma tragédia sem precedentes na história do país, que certamente se repetirá como farsa dentro de pouco tempo, na ausência de novos hábitos políticos. Isto por que a economia não é capaz de prosperar na corrupção, pelo contrário, numa combinação de capitalismo de compadres com um presidencialismo de cooptação, apenas alguns poucos grupos de empresários, burocratas e políticos prosperam, já que tem acesso a regras, privilégios e garantias específicas para si.
Ademais, reformas econômicas modernizantes, não podem ser pretexto para a impunidade. É infantilizar o debate, acreditar que é preciso tolerar um presidente pego em flagrante, ouvindo confissões de um empresário quanto ao suborno de juízes em nome de reformas econômicas. Mais do que isso, é preciso institucionalizar a agenda de reformas, elas não são de Temer, como vende a marquetagem oficial. Esta agenda foi imposta pela gravidade da crise, já se falava disto durante o período do ministro Levy e, não custa lembrar o PMDB com Eduardo Cunha e o mesmo baixo clero que absolveu Temer votava contra estas mesmas medidas que hoje juram lealdade, tudo isso quando não impunham pautas bombas como o fim do fator previdenciário ao governo anterior.
A câmara dos deputados errou e Temer deveria ser afastado, pelas mesmas razões que Collor o foi, sendo inclusive absolvido pelo STF em seguida. A prerrogativa da inocência a priori não pode ser pretexto para submeter a nação brasileira à dúvida. Se o presidente é inocente das acusações da PGR, ele deve ser o principal interessado no avanço das investigações e no rápido resultado da justiça para preservar sua biografia. No entanto, age ao contrário. O que pensar de um presidente que trocou parlamentares na CCJ? Exonerou 10 ministros de seu governo para votarem a favor do arquivamento de sua denúncia no Plenário? Empenhou R$4 bilhões em emendas parlamentares nos meses de junho e julho para aglutinar votos a seu favor? Isto somado com o refinanciamento das dívidas previdenciárias rurais, negociadas com a bancada ruralista, custando R$706 bilhões ao tesouro. Tudo isso em simultâneo a um aumento pornográfico de impostos sobre os combustíveis, sob pretexto de que o governo precisa de R$10 bilhões para cumprir a meta fiscal deficitária em R$139 bi. Do julgamento da justiça, a princípio Temer sobreviveu, mas o julgamento da história lhe será implacável. E a sociedade brasileira que está escolhendo a desonra ante a crise, ficará com os dois em questão de pouco tempo.
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