O ano de 2017 começou como uma incógnita, no artigo previsões para a economia brasileira em 2017, escrito por mim em janeiro e publicado na primeira edição do ano da Revista Cult, propus dois cenários possíveis para o desempenho econômico: um pessimista, onde haveria uma reedição do biênio 2015 e 16 e um otimista, cujas nossas primeiras previsões de melhora para inflação, taxas de juros e PIB, foram bastante conservadoras em relação à média das instituições do mercado financeiro que arriscam palpites sobre o futuro de curto e médio prazos. Apenas a título de exemplificação, propusemos em janeiro um PIB de 0,4% para o ano, naquele mês era comum agentes de mercado estimarem crescimento de 0,9% ou até mais para este indicador. Na ocasião, fomos inclusive criticados pelo pessimismo do nosso cenário otimista, hoje, 6 meses depois, vemos parte dos nossos críticos convergindo para o nosso cenário inicial.
Alguns fatores qualitativos, separaram a passagem do nosso cenário pessimista para o otimista, fatores estes compreendidos muito mais pelo campo da política, do que de responsabilidade da economia. A hipótese básica do nosso cenário otimista se ancorava na habilidade política do governo federal em aprovar a agenda de reformas, principalmente a previdência e a renegociação das dívidas dos Estados e Municípios, ainda no primeiro semestre do ano, para que fosse iniciado um debate sobre uma nova agenda de crescimento, capaz de promover uma queda no desemprego para o ano que vem, mitigando o risco de uma outra ameaça populista emergente nas urnas em 2018.
A hipótese básica da nossa previsão para 2017 ruiu, a crise política jogou a agenda de reformas para o segundo semestre e, hoje a chance de se realizar uma reforma impopular como a da previdência é mínima. A prudência do nosso conservadorismo no início do ano, no entanto, nos sugere cuidado ao rever nossas previsões para 2017. Talvez não tenhamos crescimento de 0,4% como estimávamos, talvez este crescimento seja até negativo pelo terceiro ano consecutivo. Elevada inadimplência dos consumidores e firmas, elevada e ainda ascendente taxa de desemprego, além da contaminação das expectativas sobre o futuro da economia brasileira, que guiam as decisões de investimentos na economia real, tornam o crescimento negativo uma alternativa possível.
Os dados do PIB do 1° trimestre, mostra uma atividade econômica ainda anêmica, o argumento da recuperação é falacioso por dois motivos: primeiro, a comparação é feita com o 4° trimestre de 2016, quando compara-se com o 1° tri do ano passado, ou ainda nos 12 meses findados em março deste ano, há queda. Segundo por que este eventual crescimento foi resultado de uma safra recorde no primeiro trimestre, o que não deve estender para os próximos, desempenhos de setores com maior encadeamento econômico como a indústria e intensivos em trabalho como o comércio e os serviços ainda flagram negativos.
Diante deste cenário, o que fazer?
Dada a sua irreversibilidade, decisões de investimentos na economia real, aqueles no qual há a construção ou ampliação de fábricas, lojas, contratação de mão de obra, compra de equipamentos, devem ser postergadas para depois das eleições de 2018, restando para o curto prazo apenas movimentos residuais nesta variável. Este comportamento defensivo é natural de períodos de incerteza quanto aos rumos do país, mas outros fatores devem corroborar com esta hipótese, o elevado nível de estoques na indústria, acima do planejado já a muito tempo e a capacidade ociosa, inviabilizam ampliações no curto prazo.
Já no que tange os investimentos financeiros, há margem para se proteger da crise, no entanto, é preciso ter cuidado. As incertezas quanto ao comportamento da taxa de juros futura no país são maiores hoje do que eram à dois meses atrás, a sinalização de prudência do Banco Central quanto a novas quedas na taxa SELIC, compromete em muito o desempenho dos investimentos em renda fixa. Isto devido ao mecanismo de transmissão da política monetária que valoriza o preço dos títulos frente a queda na taxa de juros e, desvaloriza o preço dos mesmos em caso de alta da mesma. É importante frisar, que este processo não se restringe ao mercado de renda fixa, como vemos no Gráfico 01, o valor das empresas listadas em bolsa sofre consistentes altas frente ao processo de queda na taxa de juros, por hora comprometido pelas incertezas quanto às supracitadas reformas.
Gráfico 1 – Evolução da taxa Selic e do valor das empresas listadas no Ibovespa.
Fonte: Banco Central do Brasil – Elaboração própria.
O Gráfico 1 mostra a valorização dos ativos listados em Bolsa de Valores (linha em vermelho) a partir do processo de queda na taxa de juros (linha em azul), a este fenômeno, denomina-se efeito riqueza. A taxa de juros é um preço formado a partir da oferta (dada pelo BC) e a demanda (dada pelas necessidades de consumo das famílias, das firmas e do governo) por dinheiro. Supondo que o objetivo do Banco Central seja manter a inflação no centro da meta, se o gasto público continua crescendo pressionado pelas despesas previdenciárias, a taxa de juros precisa necessariamente subir para diminuir a demanda privada por dinheiro. Quando isto acontece, em uma análise de longo prazo, os ativos listados em bolsa se desvalorizam.
Hoje, portanto, com as incertezas que circundam a aprovação da reforma da previdência, os investidores devem se tornar mais cautelosos, no caso da renda fixa, dado que não há certeza quanto a continuidade do processo de queda da SELIC, uma alternativa seria títulos pós fixados e indexados, como as NTN-Bs, que garantem um ganho acima da inflação. Já no que se refere ao mercado de renda variável, a cautela sugere investimentos em ações de empresas cujas oscilações de curto prazo são pequenas, ou cujo setor já esteja presenciando alguma recuperação, existem muitas empresas com estas características, e um consultor especialista em investimentos pode lhe orientar.
Há ainda, uma opção de investimentos voltado para agentes menos conservadores, tratam-se dos derivativos, apostas que se fazem em mercado futuro especulando com preços de matérias primas (ouro, petróleo bruto, alimentos e minério), com índices de ações ou com o câmbio. É preciso, no entanto, levar em conta os riscos, uma vez que nas modalidades de investimentos que exigem compreensão acerca do preço futuro de um ativo, é possível em uma única operação, alavancar enormemente o valor investido, mas a chance de prejuízo nesta modalidade é excessivamente alta, mesmo em condições normais do mercado financeiro. Entretanto, em conjunturas de incertezas como as do momento, a amplitude dos movimentos seja para auferir grandes lucros, ou para amargar relevantes prejuízos, tende a ser ainda maior, por esta razão esta modalidade é direcionada para investidores com apetite ao risco e cientes da possibilidade de perda.
1 comentário
Mauro Rodrigues
Análise sensata, realista e esclarecedora. Muito bom Benito.