O homem que pensou o Brasil
A exatamente cem anos, nascia o mais importante economista brasileiro, dono de um estilo irreverente, polêmico e elegante, Roberto de Oliveira Campos apresentou inúmeras contribuições para o Brasil, seja no campo do pensamento, onde resistiu durante décadas à hegemonia do pensamento heterodoxo no país, seja no campo da ação política, cujas realizações em suas passagens pelos governo Juscelino e Castelo Branco perduram até o presente.
Defender determinadas ideias durante alguns períodos no tempo e alguns lugares no espaço não é tarefa trivial, combater o discurso fácil, que conquista mentes e corações, através da terceirização das responsabilidades por temas espinhosos como desenvolvimento sócio econômico, pobreza, desigualdades, emprego, inflação e etc… nem sempre é uma tarefa gratificante. Mas foi Roberto Campos que primeiro defendeu, com pedagogia e equilíbrio, estas teses, desde que o Brasil se tornou industrial e urbano.
Fácil é atribuir a causa da pobreza à existência da riqueza, fácil é considerar a inflação como reajuste de preços, difícil é entender suas causas e apontar soluções. Campos foi a voz crítica ao socialismo e ao intervencionismo estatal, antes mesmo de se conhecer os seus desastrosos resultados. Campos foi o primeiro a denunciar que as utopias do Estado agigantado não produz prosperidade, apenas ineficiência e corrupção. Foi Roberto Campos o primeiro a criticar a constituição de 1988 e prever seus resultados perversos que hoje vemos.
No campo das ideias, foi influenciado principalmente por Eugênio Gudin, seu predecessor na defesa do liberalismo no Brasil. Já no campo da política, foi influenciado por Margareth Thatcher, a dama de ferro que modificou de forma profunda e definitiva as relações entre público e privado, governo e sociedade no Reino Unido e em todo o mundo.
O centenário de Roberto Campos nos remete a uma reflexão obrigatória sobre o ideário liberal no Brasil, sobretudo num período onde as teses heterodoxas, keynesianas e desenvolvimentistas se mostraram um retumbante fracasso quanto a sua capacidade de cumprir sua principal promessa, de gerar crescimento e distribuição. Revisitar Campos e as ideias liberais significa realizar ampla defesa da democracia como regime político inegociável, significa ainda a ampla defesa das liberdades individuais, como a liberdade de empreender, por exemplo. Ser liberal significa denunciar e combater privilégios, ainda que travestidos do discurso moral de amparo aos mais pobres que, na prática, não se verifica.
Ser liberal é defender por definição as causas sociais, protegendo os mais pobres que pagam impostos que são canalizados para privilégios de políticos, burocratas e empresários cartelizados, e estão alijados dos foros de decisões institucionais, além de bloqueados do acesso a enorme parte das políticas públicas. Ser liberal é defender o mérito, é defender que alguém possa ser recompensado por se esforçar mais e ser capaz de agregar mais valor.
“A única saída pra o Brasil é o liberalismo” diz Roberto Campos, de forma que ele contempla a combinação de três fatores importantes “democracia política, prosperidade econômica e eficiência”. Campos sabia disso mesmo quando o totalitarismo socialista se colocava como alternativa às democracias liberais, foi um homem a frente de seu tempo, combateu o bom combate e como todo grande pregador, guardou a sua fé nas causas da liberdade.
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