A armadilha da meia melhora

Publicado no Jornal Diário do Comércio e Gazeta de Uberlândia em 31/03/2017
 
Encerrado o ano de 2016 cujas dificuldades se resumem no preocupante número do PIB, onde a queda de 3,6% impõe uma terrível realidade ao país, o que se tem no início de 2017 é um ambiente distinto, o sentimento geral em muito incentivado pela narrativa do governo é que o pior da crise já passou e que o país ensaia uma recuperação. Neste ambiente de meia melhora, os movimentos sociais marcaram protestos em 9 Estados a favor da Lava Jato, e contra o foro privilegiado, a adesão em todo país foi aquém do histórico de manifestações organizadas por estes grupos.
 
A baixa adesão de público no protesto do dia 26, traz um preocupante cenário de inércia para a qual a sociedade brasileira pode estar sendo conduzida, anestesiada por uma sensação de meia melhora econômica, que legitima práticas políticas reprováveis que insistem em continuar no país mesmo após o processo de impeachment. É importante lembrar que esta mesma inércia quanto a temas éticos e comportamentais dos nossos governantes, existiu no Brasil dos anos 2000, cuja tolerância da sociedade e das instituições para com o Mensalão, provocou a instauração da corrupção sistêmica dos governos petistas, que agigantaram o Estado sob pretexto da melhora econômica para então saquear.
Remetendo ao assunto puramente econômico, é absolutamente natural que após 11 trimestres de queda consecutiva e aguda da atividade, haja uma recuperação cíclica, o que deve ocorrer talvez no 3° trimestre deste ano. No entanto, onde este esboço de recuperação irá nos levar?
 
Antes de responder, é necessário um breve histórico de longo prazo da economia brasileira, entre 1930 e 1979, o país apresentou uma taxa média de crescimento econômico de 6,5% ao ano, não sem desequilíbrios consecutivos nas contas externas e públicas, mas neste período o país se consolidou como industrial e urbano. Desde 1980 até 2016, nossa taxa de crescimento anual média foi de 2,3%, neste período tivemos três crises agudas e longas, governo Figueiredo, governo Collor e governo Dilma.
 
Feito este parêntese, está claro que a presente recuperação, na ausência de reformas estruturantes capazes de garantir a solidez financeira de longo prazo do Estado, a colocação do país nas cadeias globais de valor, a elevação total da produtividade dos fatores que crescem a taxas marginais decrescentes desde 1980, só poderá conduzir o país a taxas de crescimento medíocres – talvez menores até do que a média histórica recente de 2,3% ao ano – enquanto o país aguarda a próxima crise aguda e longa.
 
Neste ambiente de meia melhora, o país vai se acomodando no ambiente político que em nada evoluiu desde a última crise, e também vai se acomodando para uma nova armadilha de baixo crescimento econômico, incapaz de criar valor e riqueza o suficiente para dar sequência ao processo de distribuição tão desejado pela sociedade e pelo contrato social firmado na constituição de 1988.
 
Uma taxa de crescimento média de longo prazo inferior a 2,3%, talvez próxima a 1,5% é o que espera o país após a mencionada recuperação. Este nível de atividade vai significar uma semi estagnação da renda per capita do país. Mais do que isto, vai significar um afastamento do Brasil em relação aos indicadores de países de renda elevada. Não há mágica, e a promessa de Novas Matrizes heterodoxas de promover o crescimento baseado na demanda, sobretudo a pública, só é capaz de produzir inflação e baixa eficiência.
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