Teoria da Escolha Pública

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 18/11/2016
 
Passado o segundo turno das eleições municipais, a principal constatação a se fazer, além do alto volume de abstenções, foi o alijamento de projetos de esquerda dos governos locais e, principalmente, dos grandes municípios. Para explicar tal fenômeno, é razoável que economistas que trabalhem com finanças públicas, adentrem na seara dos cientistas políticos, uma vez que decisões políticas interferem o desempenho econômico e vice e versa.
 
Uma importante interpretação do desmoronamento do projeto de esquerda flagrante nas eleições deste ano, pode se dar pela Teoria da Escolha Pública de Tullock (1976), que parte de uma função de bem estar social pautada pelo objetivo da política macroeconômica, orientada por três objetivos: incentivar o emprego, guiar a inflação para uma pré determinada meta e induzir o crescimento econômico.
 
O pressuposto básico para o funcionamento deste sistema é que o regime político seja democrático, além de existir um comportamento do eleitor orientado por uma racionalidade coletiva, ou seja, as preocupações de eleitores com questões macroeconômicas, que determina seu comportamento nas urnas, é oriunda da sua função de perdas de bem estar afetada pelos respectivos três objetivos da política econômica.
 
Considerando um determinado nível de assimetria de informações entre políticos e eleitores, o modelo considera que, em geral, eleitores preferem a curto prazo uma orientação da política macro mais voltada ao emprego em prejuízo da inflação. Abstraindo este comportamento constatado empiricamente, políticos e administradores públicos tendem a contrapor o ciclo econômico ao ciclo político, ou seja, realizar políticas de ajuste restritivas nos dois primeiros anos de mandato e, promover políticas macro mais expansionistas nos dois últimos anos, apostando em um suposto lapso de memória do eleitor em favor da sua reeleição.
 
Isto ajuda a explicar a força auferida ao PT e ao projeto de esquerda a partir de 2010, que culminou, além da recorde avaliação positiva do projeto de esquerda, também com a forte expansão da bancada na Câmara e no Senado naquela eleição, além da subida ao poder da então ministra Dilma Rousseff.
 
O grande pecado deste comportamento dos políticos se dá quando o seu conhecimento é rudimentar, sobre os impactos de suas medidas ao longo do tempo e, portanto, a política de incentivo ao crescimento e ao emprego no curto prazo, criam duplo viés na política macroeconômica: viés de déficit na política fiscal e viés inflacionário da política monetária.
 
Como no médio prazo, as taxas de emprego e produto convergem para taxas naturais que independem da política macro, o que sobra ao eleitor é a combinação perversa de inflação elevada e queda de renda, e isto afunda popularidade de projetos políticos ao decorrer do tempo, fenômeno conhecido da América Latina como populismo, que traz no seu DNA, segundo Dornbush (1990) o gene da sua auto destruição.

 

 
Em linhas gerais, este comportamento resultou na derrocada do PT de forma específica e dos demais partidos de esquerda de forma geral nestas eleições municipais. A herança maldita do governo Dilma ainda é muito presente na memória do eleitor, que sentiu de forma inédita na história o fracasso do nacional desenvolvimentismo, sob administração de um grupo de esquerda, é possível que no campo da política, haja um fértil espaço para insurgência das ideias liberais.
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