O Triste BrExit
Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em Junho de 2016
A decepção foi quase tão grande como a surpresa de dormir na quinta feira 23/06 com todas as pesquisas apontando para a permanência do Reino Unido na União Europeia e acordar, na sexta, com o país da rainha fora, ainda que por uma tímida margem e votos.
A UE surge em 1992 (Tratado de Maastricht) como resultado de uma união alfandegária iniciada em 1957 (Tratado de Roma), sendo aprimorado ao longo das décadas, através da gradual redução do protecionismo dos Estados nacionais preparando o que se tornou o mais bem sucedido projeto de livre circulação de bens e fatores (capital e trabalho) que já se conheceu.
Do ponto de vista histórico foi um considerável avanço no sentido a estabilizar um continente marcado por séculos de guerras e disputas por territórios que sacrificaram milhões de vidas, já do ponto de vista geopolítico, significava a única maneira da Europa garantir alguma relevância diante do avanço das potências asiáticas: Japão, China e Rússia.
Do ponto de vista macro significou uma arquitetura inovadora, iniciada com o alinhamento das taxas de câmbio e em seguida com as taxas domésticas de inflação dos participantes, visando posteriormente a criação da União Monetária, criando a moeda única e uma instituição para guardar toda a regulamentação do sistema financeiro europeu, surgem portanto em 1999 o Euro e o Banco Central Europeu BCE, cujo a tarefa é guiar a inflação do bloco para a meta. Ficaram de fora da União Monetária apenas o Reino Unido e a Dinamarca.
Em 2008 a crise financeira que se abateu sobre o mundo desenvolvido, colocou em risco a sobrevivência da moeda única, já que alguns países periféricos se valeram da facilidade em contrair endividamento para custear seu welfare state combinados com políticas anticíclicas para atenuar os efeitos recessivos que perduram até hoje, desnudaram a fragilidade da estratégia de se extinguir a política cambial, unificar a política monetária sem que houvesse uma prévia unificação da política fiscal.
Como agora, na ocasião surgiram teorias e críticas de várias naturezas, em países pobres (os PIIGS) com problemas fiscais, viam crescer teses populistas de direita e de esquerda cujo a esquizofrenia do discurso nacionalista, atribuía, quando não ao livre mercado, aos alemães e franceses a culpa pelas décadas em que viveram além de suas possibilidades. A instabilidade foi levada ao limite na crise da Grécia onde na última hora encontrou-se uma solução negociada e o Euro sobreviveu.
Agora outro duro golpe na construção de uma Europa unificada, vindo de onde não se esperava, a saída de um importante membro que embora não participasse da União Monetária, era a segunda economia do bloco, que decidiu abandonar por um misto de nacionalismo xenofóbico contra a presença do imigrante árabe somado a uma falsa sensação de submissão à Alemanha.
Com a saída britânica se instaura o temor quanto a um possível efeito manada de países que desejem abandonar o bloco, colocando em risco o futuro do Euro, mais uma vez a liderança de Ângela Merkel deverá ser posta à prova, conciliando a chegada de milhares imigrantes com o sentimento racista que tem sido de forma oportunista disseminado pela extrema direita europeia. Quanto aos britânicos, serão vítimas de sua própria escolha, estarão de fora do maior mercado consumidor do mundo, num jogo onde todos perdem, o eleitor britânico escolheu perder mais do que os outros.
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