Um Projeto de Nação

A conjuntura atual da economia de recessão e estagnação nada mais faz do que manifestar problemas estruturais que estavam postos mas escondidos diante da farra de preços de commodities que anestesiaram nossa condição de subdesenvolvimento, através da bolha de consumo e de um pleno emprego limitado à 2 mínimos.
Diante disso é importante no presente momento de flagrante insatisfação política e contínuo retrocesso econômico que a sociedade se pergunte, qual o nosso projeto de país? Ou seja, aonde pretendemos estar nos próximos ou 50 anos? Entre os anos 50 e 70 o Brasil apresentou um projeto de país nítido e claro, os 50 anos em 5 almejados pelo Plano de Metas e a tentativa de transformar o Brasil em uma das 10 maiores economias do mundo durante o II PND nada mais eram do que a aplicação prática do projeto desenvolvimentista de nação.
Este projeto, evidentemente apresentou os seus limites, o excessivo endividamento e a precarização financeira do Estado, a hiperinflação, a profusão da pobreza, o autoritarismo que pautava a escolha dos vencedores, e a incapacidade de entregar o resultado prometido contribuíram para implodir o projeto desenvolvimentista já no começo dos anos 1980. O grande drama contemporâneo é que desde então nada foi colocado no lugar, nos anos 1990 onde uma tentativa de implantar o projeto liberal de país e ampliar as bases do capitalismo local esbarraram no alto nível de desemprego que emergiu como custo da estabilização monetária e perdeu o fôlego a partir de meados dos anos 2000, onde a discussão foi abortada pela bolha de consumo.
Foram perdidos neste sentido pelo menos 10 anos desde o abandono do projeto liberal no segundo governo Lula para hoje, deixamos com isso, passar o boom do preço das commodities que nos permitiram dinheiro abundante para modernizar nossa estrutura produtiva mas não só, estamos perdendo também bônus demográfico da nossa sociedade e dentro de 20 anos teremos aproximadamente o dobro de aposentados que hoje temos.
Custos fiscais à parte, a passagem do bônus demográfico nos remete a um custo intangível muito mais forte, ou seja, o custo de não realizar a tempo hábil o desenvolvimento que precisamos para não nos tornarmos em 30 anos um país velho e pobre, incapaz de continuar onerando seus cidadãos em idade ativa para manter um Estado de Bem Estar Social que hoje flagrantemente se mostra insustentável.
Ainda há o imbróglio da indústria, quais as consequências de longo prazo para um país cujo sua capacidade produtiva é obsoleta e ineficiente, incapaz de manter um programa de investimentos e inovações mesmo a despeito de toda a política industrial que foi feita? É evidente que a recuperação do parque industrial brasileiro não passará pelos métodos que se esgotaram nos anos 70, será que devemos continuar investindo num capitalismo de vencedores? Será que a crise que hoje ceifa o emprego de centenas de milhares de brasileiros se coloca da mesma forma para os conglomerados que foram alimentados à custa de dinheiro subsidiado pelo BNDES? Ou será que poderíamos ter investido em um ambiente de negócios que incidisse horizontalmente sobre todas as empresas?
A manifestação da crise nos dá a oportunidade para refletirmos sobre a sustentabilidade das escolhas da sociedade brasileira da última década, e mais do que isso, sobre aonde queremos estar dentro de 50 anos e qual o caminho que devemos tomar para chegarmos lá.
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