A herdeira da própria herança

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia

 

Passado o resultado da mais emocionante e vibrante eleição dos últimos 20 anos no Brasil é hora de pensar em construir um futuro melhor do que o presente, isto deixa de ser uma tarefa simples a medida de que a presidente eleita mais do que não conseguir melhorar o país nos seus primeiros 4 anos, em vários aspectos retrocedeu. Desta forma, o que esperar para um segundo mandato?

Do ponto de vista político, a polarização PSDB vs PT parece ter deixado rusgas mais difíceis de serem contornadas na sociedade, há uma clara radicalização do debate tanto por parte dos vencidos quanto por parte dos vencedores, até que ponto esta radicalização vai se transformar em instabilidade não se sabe, mas é possível prever que a instabilidade em qualquer circunstância prejudica o governo e beneficia a oposição. Diante disto, Dilma teve dificuldade em governar um país estável, é racional esperar que suas dificuldades aumentem frente a um país dividido.

Mas não é sobre o aspecto político que Dilma herdará de si própria o maior ônus desta eleição, mas sim cabe a ela agora desfazer a herança maldita de seu governo no aspecto econômico o que é uma tarefa ainda mais difícil visto que a esta construção macroeconômica fora instituída por ela ainda como ministra de Lula e portanto, traduz a própria visão da presidente sobre como deve funcionar a economia. Não podemos culpar Dilma por fazer no governo aquilo que acredita ser o melhor, mas podemos culpa-la pelos resultados catastróficos que esta visão impôs ao pais.

Os números não mentem, o crescimento em 0% deste ano, somado a inflação de 7% nos preços livres mais o represamento de 2,5 a 3% nos preços administrados nos sinaliza a um alerta amarelo, um cenário que literatura denomina “estagflação” sendo a soma de recessão econômica com inflação insistentemente alta. Mas os problemas não param por aí, nosso déficit nominal do setor público está batendo nos 4% do PIB fruto de uma política totalmente irresponsável a cerca do primário com a chamada contabilidade criativa, onde através de uma relação promíscua entre o tesouro e o caixa das estatais o governo maquiava o seu resultado primário. Agravando ainda esta situação o país apresenta após 10 anos de absoluto equilíbrio com setor externo um déficit em transações reais de US$70 bilhões. Tudo isto somado a uma taxa de investimentos doméstica que este ano será inferior a 17% do PIB e a um processo sangrento de desindustrialização que fez com que a indústria de transformação que representava 25% do PIB nacional em 1985, hoje represente algo em torno de 12%.

Portanto, pra quem passou 12 anos reclamando da herança recebida por FHC, me parece um bom começo de 2º mandato começar a desconstruir a própria herança na área econômica e restabelecer aquilo que por demagogia ou por acesso à informações erradas combateram. A indicação do ministro da Fazenda para os próximos 4 anos indicará se o governo pretende trazer de volta a economia brasileira para os trilhos, ou irá manter o caminho suicida que já fora percorrido no passado durante os anos 1970 de aumento do controle do Estado sobre a economia que redundou em 15 anos perdidos entre o 2º choque do Petróleo e o Plano Real que recolocou o Brasil no caminho do desenvolvimento com distribuição, caso o primeiro caminho seja o escolhido preparem-se para um médio prazo pior do que vivemos hoje.
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