No dia 1º de julho de 1994 nascia o real, a nova moeda da economia brasileira começou a ser gestada um ano antes, na forma de um plano econômico inovador, corajoso e moderno, concebido em 3 etapas o Plano Real começou pela tentativa de um ajuste fiscal onde o diagnóstico de desequilíbrio das contas do setor público coberto via expansão monetária era o germe da hiperinflação existente, para tanto foi criado o fundo social de emergência, que na prática consistia em flexibilizar uma parte dos gastos do orçamento do governo. A segunda parte do plano, foi dada pela reforma monetária, a criação da URV, um indexador com a função de unidade de conta que expressaria quase todos os contratos da economia brasileira a partir de então, permitindo que a memória inflacionária ficasse guardada em Cruzeiros Reais durante o tempo de vigor e que a nova moeda, o Real, nascesse sem a inércia inflacionária já que durante os 4 meses, todos os contratos em vigor na economia brasileira tiveram tempo de se alinhar ao novo indexador ancorado na paridade de 1 pra 1 com o dólar americano o que permitiu num contexto de abertura econômica dos anos 90 que os preços se mantivessem baixos por mecanismos de mercado, e não por congelamentos heterodoxos como nos choques dos anos 1980. A primeira diferença do Plano Real, para todos os outros planos que o antecederam, foi que o Real deu certo, indiscutivelmente, no que previa sua proposta original de mitigar a inflação da economia brasileira, o Real foi o mais bem sucedido plano econômico da história do capitalismo brasileiro. Mais do que o controle inflacionário, o Real conseguiu o mais difícil tornar a política econômica crível no Brasil após 20 anos de congelamentos de preços, planos de desenvolvimento industriais falidos, represamento de tarifas públicas e tudo que não se deve fazer em termos de política econômica. A nova arquitetura da economia brasileira previa um ajuste patrimonial sério, com privatizações bem sucedidas, entrada do capital estrangeiro na economia brasileira, redução do tamanho do estado, transparência nas contas do setor público, enfim, o plano deu solidez á política macroeconômica brasileira. Não se restringindo a 1994, o plano nacional de desestatização que realizou o ajuste patrimonial do estado brasileiro vendendo empresas como Vale, Embraer, hoje empresas modelo do capitalismo brasileiro, competitivas e integradas ás cadeias internacionais de produção, e o sistema Telebrás que através da entrada de capitais universalizou um serviço essencial para o desenvolvimento do país, as telecomunicações. Outro fator importante para organização da economia brasileira foi o programa de regulamentação do sistema financeiro brasileiro, o PROER impediu em 1996 que houvesse uma crise de confiança do sistema bancário causando um efeito dominó de falências de bancos no Brasil, a arquitetura previa que bancos saudáveis comprassem as carteiras de bancos em dificuldades com auxílio do governo e do banco central evitando a chamada corrida bancária. A reorganização da economia brasileira passou ainda pelo âmbito da aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelecendo um critério para o endividamento do setor público, e coibindo comportamentos populistas de prefeitos e governadores, significando um marco na transparência orçamentária do setor público. As crises, e a conjuntura econômica dos anos 1990 arranharam o brilho do plano real, trouxeram consigo problemas de baixo crescimento e desemprego, o que evidentemente não significava o fracasso do plano, mas sim a postergação dos bons frutos que seriam colhidos anos mais tarde durante o governo de quem se posicionou contra o Plano, o apelidando na época de estelionato eleitoral. Hoje 20 anos depois e com a nítida sensação de que as conquistas sociais e econômicas do plano correm risco de morte, precisamos pensar o nosso 2º Plano Real, com vistas a competitividade, a ganhos de produtividade, e isto passa por algumas reformas macro e microeconômmicas, um bom começo seria um ajuste fiscal sério, perseguindo o déficit nominal 0 favorecendo assim a formação de taxas de poupança doméstica mais robustas em relação aos níveis atuais, o que perpassa pela discução da nova agenda social e da nova previdência. Outra questão importante que deve ser levada em conta é o auto grau de protecionismo da economia brasileira, a 7º economia mundial, não trafega entre as 20 nações que mais exportam, a política de conteúdo nacional cria no Brasil um setor industrial ineficiente obrigado a adquirir internamente insumos mais caros e de menor qualidade em relação ao que fazem os países de capitalismo avançado. A nova URV deste segundo Plano Real deve ser um plano de desenvolvimento educacional e científico capaz de formar mão de obra produtiva de acordo com a vocação produtiva de cada região brasileira, o estado da arte consiste em conciliar uma política industrial, regional e educacional capaz de dinamizar a economia brasileira, garantir a produtividade do trabalho e a competitividade da indústria. E por fim o novo plano real deve tentar solucionar o eterno gargalo da economia brasileira, a questão de financiamento de longo prazo da economia brasileira, que mesmo diante do agigantamento do BNDES está longe de ser solucionado, e é fundamental para a modernização do complexo produtivo nacional. O Plano Real completa 20 anos, e esperamos nos próximos 20 anos estar escrevendo sobre as oportunidades abraçadas e estar vivendo amanhã num país melhor do que temos hoje, a construção é diária, o rumo já conhecemos, foi dado em 1994 só precisamos acelerar naquela direção.
1 comentário
Mateus Carrijo
Favor dar os créditos de contribuição! haha
abraço!