PIB e os limites da recuperação

Publicado no Jornal Diário do Comércio em 03/03/2018

Durante esta semana o IBGE divulgou o Produto Interno Bruto da economia brasileira de 2017. O resultado trata-se do primeiro positivo, após dois anos consecutivos de queda na atividade, mas afinal, o que significa na prática este resultado? A princípio, significa que o Brasil não está, desde pelo menos o 2° semestre de 2017 em recessão. Dito isto, quais os limites desta recuperação? Por trás de um crescimento econômico de 1% em 2017, existem inúmeros problemas que precisam ser qualificados:

1° Este número foi bastante modesto, se considerarmos que entre janeiro e dezembro de 2017, a taxa básica de juros caiu 7 pontos base, passando de 13,75% em janeiro, para 6,75% em janeiro de 2018, uma expansão monetária com características semelhantes jamais foi vista na história do Brasil, e mesmo assim, a resposta da atividade econômica foi lenta e moderada.

2° O resultado foi influenciado pelo comportamento do setor agrícola, cujos fatores climáticos foram decisivos para o crescimento de 13% no ano passado. É importante salientar, no entanto, que por mais bem vinda que seja a atividade no campo, ela é intensiva em capital, e não será capaz de fomentar a retomada no mercado de trabalho. Não obstante a isto, o setor de serviços, o mais intensivo em mão de obra na economia, cresceu apenas 0,3%, o que flagra uma dificuldade explícita posta à recuperação econômica.

3° Ainda pelo lado da oferta, a indústria não cresceu no ano de 2017, fechando o ano com 0,0% de resultado, sendo que este resultado pode ser segregado num comportamento positivo de 4,3% da indústria extrativista, onde as mudanças de paradigma relacionados principalmente à área de petróleo e minério, já se fazem sentir. Somado ainda, a um comportamento de 1,7% da indústria de transformação, cuja dinâmica foi favorecida principalmente pelos novos patamares da taxa de juros e de câmbio. Mas compensado por um comportamento de – 5,0% da indústria da construção civil, cuja recuperação demandará ainda mais tempo para se consolidar.

4° Pela ótica da demanda, o consumo das famílias foi o fator propulsor do crescimento econômico em 2017, com desempenho positivo em 1%, nada de novo. Este resultado foi causado principalmente por uma queda abrupta do IPCA, que variou de 6,29% em 2016, para 2,95% em 2017. Isto permitiu um crescimento da massa salarial per capita de 1,6%. Outros fatores também contribuíram para a retomada do consumo, e consequentemente da economia, como o crescimento do crédito da ordem de 2,6%.

Mas, uma vez dados os vetores para o crescimento econômico em 2017, quais os limites? Se é verdade que o PIB cresceu 1% nos quatro trimestres do ano passado, também é verdade que ele chegou a crescer 2,1% no quarto trimestre, e este deverá ser o número de crescimento para este ano. Por várias razões limitantes: i) Já é certo que a taxa SELIC está próxima do seu piso, ou seja, pode haver mais uma queda de 0,25 p.p. mas isto tem um limite, e ela jamais irá se comportar da forma como se comportou em 2017. ii) A inflação também pode ter chegado ao seu limite mínimo, estando em 2,95%, as previsões para 2018 são de 3,5%, o que limita o crescimento da renda real do trabalho, pode ser que com o crescimento econômico, esta inflação seja ainda mais elevada, próxima aos 4,5%.

Mas o principal limitante para a recuperação econômica está no investimento, a Formação Bruta de Capital Fixa fechou em queda em 2017 de -1,8%, o que mostra que a recuperação em curso será i) modesta do ponto de vista de intensidade e, ii) limitada ao curto prazo, já que o consumo não é capaz de conduzir uma expansão econômica sustentada. Enfim, mesmo com números positivos no agregado, existem fatores qualitativos que mostram que ainda temos mais razões para nos preocupar, do que para comemorar com o PIB de 2017, o Brasil precisará assumir uma agenda de crescimento a partir da eleição, e para os próximos 4 anos.

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