Onde mora o problema

A economia brasileira encontra-se em uma encruzilhada de problemas de difícil solução, e o rompimento com o atual cenário aponta para saídas pouco palatáveis ao nosso bolso e estômago, ao longo de todos estes anos de populismo, melhoramos nosso nível de consumo, passamos a nos vestir melhor, alimentar melhor, viajar mais, enfim, melhoramos nosso padrão de consumo de forma jamais vista. O que faltou então? Fica claro, com isto que faltou melhorarmos nossa produtividade, nossa educação, nossa ciência, nossa infraestrutura e nossas instituições.

 

Não por acaso, nem tão pouco por culpa dos outros entramos numa armadilha onde acumulamos inflação alta 6,5% e um déficit em transações correntes de 4% do PIB apesar de um crescimento econômico de pífios 0,2%.

 

Estes problemas não surgem do nada e embora a percepção que se tenha é de que a mudança de humor entre 2010 e 2014 tenha se dado subitamente, na verdade, o problema já estava posto para nossa economia desde aquela época. A causa da nossa baixa capacidade de crescer e da nossa perceptível sensibilidade à mudanças externas é exatamente a insuficiência de poupança doméstica.

 

A poupança por definição é a fonte de financiamento do investimento em uma economia, ela pode ser de duas naturezas, externa (déficits no balanço de pagamentos) ou interna (poupança privada mais a poupança do setor público), no Brasil historicamente apresentamos um baixo desempenho deste agregado hoje próximo a 14% do PIB, frente a economias asiáticas que poupam em média 35% do PIB e por isso apresentam crescimento sustentado e normalmente são mais blindadas a crises externas.

 

Entre as várias causas do baixo nível de poupança da economia brasileira, a principal é exatamente a despoupança do setor público, ao olharmos para um governo que terá um déficit nominal este ano bem próximo de 5%, percebemos que ele gasta muito e é incapaz de promover crescimento econômico com a expansão do seu gasto, na prática o que está ocorrendo na economia brasileira é uma substituição do gasto privado pelo público e além de não gerar crescimento esta política levará o país para uma situação com taxas de juros mais elevadas e uma dívida pública maior do que o atual 62% do PIB.

 

E as principais conseqüências da escassez de poupança interna são: baixo nível de investimentos, este ano estagnado em 17% do PIB. alta dependência de financiamento externo, num contexto de baixa produtividade da indústria onde isto gera altos déficits em transações reais via retração das exportações gerando instabilidade e volatilidade cambial. Juros altos e ausência de financiamento de longo prazo na economia, o que inviabiliza investimentos em infraestrutura. Incapacidade de sustentar um crescimento mais robusto por um período mais duradouro de tempo.

 

A solução deste gargalo da economia brasileira passa com certeza pela redução do déficit fiscal e com vistas a longo prazo a reduzí-lo a um déficit nominal 0%, isto permitirá uma trajetória de redução da taxa de juros da economia brasileira, desencadeará investimentos que permitirão um crescimento mais acelerado da economia, o que vai colaborar para reduzir a relação Dívida/PIB e conseqüentemente a exposição do Brasil à choques externos. Visto, contudo que a carga tributária no Brasil está demasiadamente elevada, o ajuste deverá ser dado via corte de gastos e não por elevação de impostos como pretende o governo.
Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

*